sexta-feira, 2 de março de 2012

Xingu: um apelo à consciência

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A insistência de nossos governantes em levar adiante Belo Monte, não obstante o alto grau de insatisfação das populações locais e de grande segmento da sociedade brasileira com a construção da usina hidrelétrica reflete o quanto o dinheiro ainda comanda nosso mundo, mas, em geral - isto é muito grave! - não a nosso favor.
Contudo, não é apenas dinheiro e ambição que permitem aos acontecimentos tomarem este rumo. Há ainda um outro tipo de pensamento implícito nas ações que tocam o projeto adiante: a convicção ilusória da superioridade cultural e intelectual dos "brancos", com sua tecnologia, suas teorias e suas cidades, que lhes proporcionaria direitos de decidir sobre dado território que integra a ficção legal de um país, desconsiderando a realidade dos povos que sempre viveram naquele lugar.
Fronteiras entre países são convenções, não foram desenhadas por Deus. Quase sempre, elas foram traçadas em guerras, com sangue; algumas vezes foram desenhadas em mapas, do outro lado do Oceano Atlântico, sobre as mesas luxuosas de governantes que selaram pactos válidos entre os seus países e reconhecidos posteriormente pelos demais. Com algumas alterações, esta é essencialmente a ordem que criamos e à qual nos submetemos.
No entanto, quando essa mesma ordem cria oportunidade para que as decisões sejam tomadas em detrimento dos seres humanos (do meio ambiente e da própria vida) a quem ela deveria servir e proteger, quando o foco passa das pessoas aos interesses político-econômicos, como se fosse a coisa mais normal do mundo, a voz da razão e da consciência devem se fazer ouvir.
Para nós,descendentes de europeus, pode ser difícil entender que nenhuma cultura é melhor que a outra. O eurocentrismo é um termo cunhado para a ideia de que a Europa e sua cultura devam ser modelos e pontos de referência para as sociedades modernas, representando um ideal de progresso a ser alcançado por todos os grupos humanos. Desde a colonização das Américas e a insistência em catequizar os povos nativos, impondo um estilo de vida frequentemente pernicioso e problemático que chamamos de "civilizado", uma ignorância imensa faz muitos europeus e seus descendentes pensarem que têm algo pra ensinar aos povos nativos de todos os lugares, desde suas estátuas de Jesus e seu latim, até seus utensílios fabricados em série, seus carros e suas ideias de luxo, sucesso e status.
Não! Isto não é verdade!
Os indígenas vivem como querem e só querem continuar vivendo onde sempre estiveram, do modo como aprenderam a integrar-se com a Natureza. Nós, por outro lado, não aprendemos nada disso, e tentamos espalhar nossa ideologia como um vírus de computador que tende a adoecer e aniquilar tudo aquilo em que toca.
A questão que fica, então é: quem tem o direito de decidir o que é melhor? Quem criou um modo de vida falido e insustentável, com suas doenças, sua poluição, seus suicídios, seus crimes e catástrofes ambientais? Ou quem desde sempre soube ouvir e entender os ritmos da Natureza, os sons dos animais e o vento, respeitando-os como seres divinos?

Leia também o post de 05/03/12 em Xingu Vivo: OIT diz que governo violou convenção 169 no caso de Belo Monte.

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