sábado, 28 de maio de 2011

Lixo orgânico




Poucos anos atrás, fazia sucesso Filtro Solar, um fictício discurso dirigido a uma pretensa turma do ano de 2003, na voz de Pedro Bial, mas que foi baseado numa crônica da colunista Mary Schmich, publicada em 1º de junho de 1997 no Chicago Tribune, transformada em música no mesmo ano com o título Everbody's free to wear (Sunscreen), pelo australiano Baz Luhrmann.
Uma bem sucedida história de reciclagem de um texto que, como tantos, podia ter morrido nas páginas de um jornal diário, mas que sobreviveu. Ele dizia coisas como:

"Talvez você case, talvez não.
Talvez tenha filhos, talvez não.
Talvez se divorcie aos 40, talvez dance ciranda em suas bodas de diamante."

De fato, nossa existência é feita de muitos "talvezes". Mas uma coisa é certa: um dia vamos virar lixo orgânico. Ao menos, aquela parte de nós que se desgasta e morre.
Talvez eu consiga aquele trabalho, talvez eu reforme a casa, talvez meu filho passe no vestibular, mas a certeza implacável é de que um dia nossos corpos bem ou mal tratados acabarão sob a terra, e seus elementos serão reciclados pelos meios da Natureza, embora nossos ossos talvez durem um pouco mais para contar nossas histórias.
Com exceção do dia de finados, quando TALVEZ depositem flores sobre nossos restos, eles serão tão descartados quanto borra de café ou computadores de quinze anos atrás.
A questão é que é comum olhar-se o lixo e quem trabalha nele com desprezo ou mesmo nojo. Como se fôssemos muito diferentes, ou excepcionalmente melhores, ou como se degradação e mal cheiro não fossem o destino natural de nossa parcela mortal. Isso me leva aos trabalhos do artista Vik Muniz e ao seu documentário Lixo Extraordinário, apresentando a vida batalhada dos catadores do Jardim Gramacho, no Rio de Janeiro.
De fato, "o momento em que uma coisa se transforma em outra é o momento mais bonito", diz Vik. Assim como nós nos transformamos em pessoas melhores e em espíritos melhores, assim como um quadrado de papel se transforma num origami, a gente vive de se renovar. A Terra se renova há milênios. E precisamos renovar as ideias sobre o lixo e sobre o que se pode fazer com ele.
O amor é um bom jeito de deixar tudo sempre novo. Ame muito seu planeta!




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Imagens: Blog Em fechamento.